quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Sepultura - Machine Messiah (2017)


Sepultura - Machine Messiah (2017)
(Nuclear Blast - Importado)


01. Machine Messiah
02. I Am The Enemy
03. Phantom Self
04. Alethea
05. Iceberg Dances
06. Sworn Oath
07. Resistant Parasites
08. Silent Violence
09. Vandals Nest
10. Cyber God

Você goste ou não, o Sepultura é a maior banda de Metal já surgida nesse país. Mas também é a que mais divide opiniões. Quantas vezes já não escutei frases como “o Sepultura acabou no Arise” (ou variações da mesma, trocando o nome do álbum pelo Schizofrenia ou Chaos A.D.), ou então que sem os irmãos Cavalera, não é Sepultura, ou que deveriam ter acabado após Roots, com a saída de Max. Existem também aqueles que mesmo após quase 20 anos, não conseguem aceitar a presença de Derrick Green na banda. Tem também aquela turma que critica duramente Andreas Kisser, pelo mesmo aceitar fazer participações ao lado de artistas populares. Por último, temos aqueles que realmente não gostam da música praticada pelo grupo hoje em dia, o que não tem nada de errado. A verdade é que hoje em dia, qualquer coisa parece motivo para se criticar o Sepultura.

Por outro lado, existem aqueles que nunca abandonaram a banda, mesmo em seus piores momentos. Nesse time, temos aqueles que defendem o Sepultura pela sua importância para o Metal nacional, os que os apreciam pelas suas apresentações ao vivo e até mesmo os que realmente gostam do material lançado pós-Roots. Eu particularmente estou no time que admira a banda pelo fato da mesma nunca ter se acomodado, sempre fazendo o que tiveram vontade e olhando para o futuro, nunca para o passado. A verdade é que sempre optaram pelo caminho mais difícil, musicalmente falando. Seria muito mais cômodo terem passado o restante da carreira relançando eternamente o Beneath The Remains (89) ou o Arise (91). Não receberiam a saraivada de críticas de muitos por aí e certamente seria garantia de material de qualidade.

Mas aí não seria o Sepultura, uma banda que sempre carregou uma inquietação musical grande em todas as suas fases. Se não ousassem, certamente perderíamos muito ao não ter trabalhos de grande qualidade como Chaos A.D. (93) e Roots (96), um álbum que mesmo criticado por muitos fãs “das antigas”, angariou enorme respeito em todo o mundo e elevou o nome do grupo ao hall dos grandes do Metal, além de deixar a todos com aquela eterna dúvida de até onde poderiam ter chegado se não ocorresse o traumático rompimento de Max com o restante da banda. Aliás, de lá para cá a caminhada não tem sido das mais fáceis e acidentes de percurso ocorreram. Acho que nem o mais fanático adorador da banda, pode negar que Nation (01) é um trabalho fraquíssimo e Against (98) e Roorback (03) passam longe de empolgar como um todo. Com a dupla Dante XXI (06) e A-Lex (09) a situação começou a melhorar, ao menos do ponto de vista de qualidade, mas foi com seus dois últimos álbuns, Kairos (11) e The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart (13) que aparentemente a locomotiva voltou aos trilhos.


Sobre a temática de Machine Messiah, nada melhor do que usar as próprias palavras de Andreas Kisser para explicar a mesma. “A maior inspiração para o Machine Messiah é a robotização da sociedade atualmente. O conceito de um Deus Máquina que criou a humanidade, e agora parece que este ciclo chega ao fim, retornando ao ponto inicial”. Aliás vale dizer que, há tempos, o Sepultura vem se mostrando uma banda diferenciada quando falamos de conceitos para seus álbuns. E bem, falar da “robotização” de nossa sociedade não poderia ser mais atual.

Muitos certamente continuarão criticando, mas gosto muito dos vocais de Derrick Green. Me recuso a tecer comparações com Max Cavalera, isso seria injusto, já que são fases totalmente diferentes, até mesmo em matéria de sonoridade, mas aqui ele executa um belíssimo trabalho. Talvez o melhor nesses quase 20 anos de banda. Andreas Kisser é um caso à parte. Sua capacidade de forjar riffs marcantes é algo ímpar, aqui temos alguns verdadeiramente bons, e os solos, em muitos momentos, chegam a remeter ao Sepultura antigo. Para mim, um dos melhores em seu instrumento na atualidade. Paulo Jr, bem….é o Paulo Jr e você sabe exatamente o que esperar dele. É discreto e eficiente e isso já basta. Agora, Eloy Casagrande é um capítulo à parte. O cara é monstruoso, soberbo atrás de seu kit de bateria e ouso dizer que até mesmo supera Igor em seus tempos de glória. O que ele faz aqui é simplesmente espetacular.

Mas vamos ao que realmente interessa. O álbum abre justamente com a faixa título, que certamente poderá causar estranhamento em alguns. Sombria, começa com vocais limpos de Derrick, para mais à frente explodir em peso. É lenta, angustiante, tem riffs marcantes e é muito forte, mas confesso que me soou meio deslocada como faixa de abertura. Em seguida, temos a já conhecida “I Am The Enemy”, que mescla Thrash com aquele Hardcore dos anos 90, e soa simplesmente feroz e raivosa. É dessas músicas que não dá tempo ao ouvinte para respirar. E o solo vai te remeter aos melhores momentos do Sepultura no passado. “Phantom Self” é outra já conhecida e que choca já no seu início, com sua percussão e suas orquestrações (elaboradas pelo Maestro Renato Zanuto). Conta com a participação de um violinista tunisiano, trazido pelo produtor Jens Bogren para participar do álbum, o que acaba dando uma vibração mais oriental nos momentos em que o violino surge. É uma das faixas mais vigorosas e interessantes do trabalho. “Alethea” é outra música muito forte e se destaca principalmente pelo ótimo uso de percussões, não só na introdução como também durante a música. Ainda assim é a mais fraca dessa primeira metade, apesar de estar muito longe de ser ruim. Apenas não é tão marcante quanto as demais. Encerrando a primeira metade do trabalho, temos a instrumental “Iceberg Dances”, com um arranjo definitivamente empolgante e hipnótico. É uma música bem variada e temos, além de algumas passagens tribais, a utilização de um órgão, momentos que remetem ao Jazz e até mesmo à música Flamenca. E prestem atenção no trabalho da dupla Kisser/Eloy. Os caras são os donos de Machine Messiah.


A segunda metade abre com a minimalista “Sworn Oath”, que além de possuir bom groove e peso, possui melodias bem sinistras e ótimos elementos orquestrais. Sem dúvida uma música muito intensa. As passagens orquestrais (belíssimas por sinal) voltam a dar as caras em “Resistant Parasites”, pesada, raivosa e com uma pegada bem Thrash. Tem uma parte percussiva bem interessante e Eloy novamente detona. Kisser também brilha, com ótimos riffs. Isso vale também para “Silent Violence”, uma pedrada Thrash, poderosa e empolgante, dessas de te fazer quebrar o pescoço. Alternando algumas partes mais cadenciadas com outras mais velozes, é outra que vai te remeter ao Sepultura do passado em alguns momentos. Já “Vandals Nest” tem passagens bem velozes e empolgantes, mas confesso que achei ela a mais “fraca” dessa segunda metade. E olha que Casagrande e Kisser simplesmente detonam tudo durante os quase 3 minutos de duração da mesma. Para fechar o trabalho, temos “Cyber God”, que assim como a faixa de abertura, começa bem lenta, sinistra e conta com alguns vocais limpos de Derrick. Aliás, aqui temos seu melhor desempenho em todo o álbum. E sim, sei que isso já está soando chato, mas prestem atenção no trabalho de guitarra e bateria aqui. Esses caras fazem tudo parecer tão fácil.

Gravado, produzido, mixado e masterizado no Fascination Street Studios, em Örebro, Suécia,  Machine Messiah teve a chancela do onipotente, onisciente e onipresente Jens Bogren, “O Cara” quando se trata de produção nos dias de hoje. E bem, o resultado foi excelente e é visível que houve preocupação com cada detalhe aqui presente. Mas o mais incrível é que apesar disso, o trabalho soa assustadoramente orgânico e natural, mesmo que em alguns momentos estejam ocorrendo diversas coisas ao mesmo tempo na música. Em suma, não soa robótico, frio. A capa é um belíssimo trabalho da artista filipina Camille Della Rosa (http://www.camilledelarosa.net/), intitulado Deus Ex-Machina e apesar de ter sido criada 6 anos atrás, se encaixou perfeitamente com o conceito do álbum. Simplesmente uma das melhores que vi nos últimos anos.

Os detratores da banda continuarão batendo forte, afirmando que o tempo do Sepultura já passou. Ok, direito deles, afinal, cada um pensa como quiser. Mas gostando ou não, isso em nada vai diminuir a relevância dos caras e nem mudar o fato de que lançaram seu melhor trabalho nos últimos 20 anos. Sem medo de inovar, de trazer novos elementos para sua música e fazer diferente sempre, lançaram um trabalho digno da grandiosidade de sua história. E o mais importante, passam o recado para quem quiser entender, que o Sepultura pensa no futuro e não pretende viver do passado. Ainda estamos em janeiro, 2017 promete muito, mas desde já é candidato a um dos álbuns do ano.

NOTA: 9,0

Sepultura é:
- Derrick Green (vocal);
- Andreas Kisser (guitarra);
- Paulo Jr (baixo);
- Eloy Casagrande (bateria).

Homepage
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube


2 comentários:

  1. Caríssimo, seu texto ficou mais bonito que o próprio disco. Quem o lê não dá nota 9,0, vai dar 11,0. Fala pra mim quanto você ganhou de cachê pra escrever esse e-book de elogios. Qual foi ou é sua contribuição para o cenário metal? Péssimo gosto pra quem até escreve muito bem. Reveja seus conceitos, meu nobre.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bem Wilson, agradeço os elogios com relação a escrita. Do meu jeito, vou sempre tentando fazer o melhor possível.

      Cachê???? Poxa, bem que dizem por ai que a mão que afaga é a mesma que apedreja. Não recebo um centavo sequer por qualquer coisa que escrevo aqui. Nem mesmo cd físico eu cobro de bandas, tanto que muitas das resenhas aqui feitas são através de materia digital.

      Minha contibuição para o cenário? Bem, acho ela muito, mas muito pequena perto do que eu gostaria, mas sempre dou prioridade de espaço para bandas nacionais. Nesses quase 4 anos de Blog, possivelmente tive muito mais bandas do underground nacional nessas páginas do que bandas gringas. Poder dar a elas um espaço onde possam promover seus trabalhos, e isso, repito, sem levar qualquer tipo de vantagem financeira, já julgo ser alguma coisa. Fora isso, adquiro material, vou a shows, tudo que qualquer fã de Metal faz, ou deveria fazer pelo nosso cenário.

      Quanto a gosto, bem, isso é algo extremamente pessoal. Cada um tem seus estilos, suas bandas preferidas e é isso. Não julgo esse tipo de coisa em ninguém. Se me julgam, paciência, afinal, se dou a cara para bater através de um blog, faz parte do jogo receber críticas (e elogios).

      Quanto ao novo do Sepultura, é aquela coisa, vai dividir as opiniões, como sempre. Eu gostei, vc não, assim como conheço centenas de pessoas que compartilham tanto o meu como o seu pensamento. Faz parte e é saudável até que seja assim, desde que claro, as coisas fiquem no campo das discodrdâncias respeitosas.

      Abraços!

      Excluir